Abordagem Clínica das Ataxias: Diagnóstico, Classificação e Tratamento
- Grupo de Estudos em Transtornos do Movimento
- há 6 dias
- 14 min de leitura
Resumo
As ataxias representam um grupo heterogêneo de distúrbios neurológicos caracterizados pela incoordenação motora resultante de disfunção cerebelar. Este artigo revisa a abordagem clínica sistemática para o diagnóstico diferencial das ataxias, incluindo causas adquiridas, genéticas e degenerativas não-genéticas. A classificação baseia-se no tempo de evolução (aguda, subaguda ou crônica), padrão de herança e características clínicas associadas, sendo a determinação do perfil temporal o passo inicial mais crucial para refinar o diagnóstico diferencial. O reconhecimento precoce de causas tratáveis, como deficiências vitamínicas e certas ataxias autoimunes, é fundamental para o manejo adequado e pode alterar significativamente o prognóstico. Embora a maioria das ataxias genéticas e degenerativas permaneça sem tratamento específico modificador da doença, a neurorreabilitação intensiva e multidisciplinar demonstra benefícios consistentes na redução da gravidade dos sintomas e na melhoria da qualidade de vida. Desenvolvimentos terapêuticos recentes, incluindo a aprovação do omaveloxolone para a Ataxia de Friedreich, terapias direcionadas ao RNA para ataxias espinocerebelares e a investigação da estimulação cerebelar não-invasiva, oferecem perspectivas promissoras para o futuro tratamento desses distúrbios complexos, assinalando uma transição para uma era de medicina de precisão em ataxiologia.
Palavras-chave: Ataxia cerebelar, diagnóstico diferencial, ataxias hereditárias, neurorreabilitação, atrofia de múltiplos sistemas, ataxias espinocerebelares
Introdução
As ataxias cerebelares constituem um conjunto complexo de distúrbios neurológicos que afetam a coordenação motora, equilíbrio e controle de movimentos.¹ O cerebelo, através de suas extensas conexões com áreas corticais frontais e recepção de aferências da medula espinal, desempenha papel fundamental na coordenação da marcha, equilíbrio, fala e habilidades motoras finas.² Sua função primária envolve o planejamento, predição e atualização de movimentos, permitindo execução precisa e temporalmente adequada dos mesmos.³
A disfunção cerebelar resulta em um espectro de manifestações clínicas que inclui dificuldades de marcha e equilíbrio, ataxia de membros com dismetria e tremor intencional, disfagia, disartria, sinais oculomotores anormais e, mais recentemente reconhecida, a síndrome cognitiva afetiva cerebelar.⁴,⁵ A avaliação padronizada através da Escala para Avaliação e Classificação de Ataxia (SARA) fornece uma medida objetiva da gravidade dos sintomas, com pontuação variando de 0 a 40 pontos.⁶
Classificação e Fisiopatologia
Bases Anatomofuncionais
O cerebelo é organizado em três lobos funcionais distintos. O lobo flocculonodular (vestibulocerebelo) regula o equilíbrio e movimentos oculares; o lobo anterior e posterior (espinocerebelo) coordena movimentos axiais e dos membros; e os hemisférios laterais (cerebrocerebelo) participam do planejamento motor e funções cognitivas.⁷ Esta organização anatômica explica os diferentes padrões de manifestação clínica observados nas diversas etiologias de ataxia.
Framework Etiológico
O framework diagnóstico das ataxias compreende três categorias principais: ataxias adquiridas, ataxias genéticas e ataxias degenerativas não-genéticas. Esta classificação, combinada com o perfil temporal de evolução, constitui a base da abordagem diagnóstica sistemática.⁸
Ataxias Adquiridas
Ataxias Agudas e Subagudas
Causas Vasculares
O acidente vascular cerebral representa a causa adquirida mais comum de ataxia aguda.⁹ Lesões no território da artéria cerebelar posterior inferior (PICA) resultam em síndrome cerebelar ipsilateral com vertigem e síndrome de Wallenberg associada. O envolvimento da artéria cerebelar anterior inferior (AICA) manifesta-se com ataxia, perda auditiva e paralisia facial ipsilateral. Infartos da artéria cerebelar superior cursam com ataxia grave de marcha e disartria proeminente.⁹
O edema cerebelar compressivo constitui complicação temida, podendo evoluir para hidrocefalia obstrutiva e herniação tonsilar, configurando emergência neurocirúrgica. A ressonância magnética com sequência de difusão é o método diagnóstico mais sensível para detecção precoce de isquemia cerebelar.¹⁰
Causas Inflamatórias e Autoimunes
A encefalite por anticorpos anti-NMDA emerge como causa importante de ataxia subaguda em pacientes jovens, frequentemente associada a quadro neuropsiquiátrico complexo incluindo psicose, convulsões e distúrbios do movimento.¹¹ A esclerose múltipla pode manifestar-se com ataxia aguda resultante de placas desmielinizantes no cerebelo ou pedúnculos cerebelares.¹²
A cerebelite aguda pós-infecciosa, mais comum na população pediátrica, geralmente apresenta prognóstico favorável com recuperação completa na maioria dos casos. Infecções diretas do sistema nervoso central, como rombencefalite por Listeria monocytogenes, requerem investigação microbiológica específica e tratamento antimicrobiano dirigido.¹³
Causas Tóxicas e Metabólicas
A intoxicação medicamentosa representa causa frequente e reversível de ataxia. Anticonvulsivantes (fenitoína, carbamazepina), lítio, benzodiazepínicos e agentes quimioterápicos são os fármacos mais comumente implicados.¹⁴ O monitoramento de níveis séricos é fundamental na identificação de intoxicação por anticonvulsivantes.
A encefalopatia de Wernicke constitui emergência médica caracterizada pela tríade de ataxia, oftalmoplegia e confusão mental. A apresentação pode ser incompleta, sendo a ataxia isolada uma manifestação possível. O tratamento imediato com tiamina intravenosa em altas doses (500mg três vezes ao dia) é imperativo para prevenir progressão para síndrome de Korsakoff.¹⁵
Síndromes Paraneoplásicas
A degeneração cerebelar paraneoplásica caracteriza-se por ataxia pancerebelar rapidamente progressiva que frequentemente precede o diagnóstico oncológico. Anticorpos anti-Yo associam-se a carcinomas ovarianos e mamários, enquanto anticorpos anti-Hu relacionam-se a carcinoma pulmonar de pequenas células.¹⁶ A resposta ao tratamento oncológico ou imunoterapia é geralmente limitada, resultando em incapacidade neurológica permanente.
Ataxias Progressivas Crônicas Adquiridas
Degeneração Cerebelar Alcoólica
O abuso crônico de álcool induz degeneração seletiva dos neurônios de Purkinje no vermis cerebelar anterior, resultando em ataxia de marcha e tronco com preservação relativa da coordenação de membros superiores.¹⁷ A neurotoxicidade direta do etanol, combinada com deficiências nutricionais, especialmente de tiamina, constitui o mecanismo fisiopatológico principal.
A ressonância magnética revela atrofia vermiana característica. A abstinência alcoólica completa pode levar à estabilização dos sintomas, embora a recuperação funcional seja limitada. A suplementação vitamínica, particularmente do complexo B, é componente essencial do tratamento.¹⁸
Ataxias Autoimunes
Ataxia do Glúten: A sensibilidade ao glúten pode manifestar-se como ataxia cerebelar na ausência de sintomas gastrointestinais ou enteropatia vilositária. A fisiopatologia envolve reação imune cruzada entre anticorpos anti-gliadina e antígenos cerebelares, particularmente a transglutaminase 6 (TG6).¹⁹ O diagnóstico baseia-se na detecção de anticorpos anti-gliadina e anti-TG6. O tratamento com dieta isenta de glúten pode estabilizar ou melhorar a ataxia, especialmente quando iniciado precocemente.²⁰
Ataxia Associada a Anti-GAD: Anticorpos contra a descarboxilase do ácido glutâmico (GAD65) associam-se a ataxia cerebelar, frequentemente em mulheres de meia-idade com outras condições autoimunes.²¹ Títulos elevados (>2000 U/mL) e síntese intratecal de anticorpos anti-GAD65 apoiam o diagnóstico. Uma proporção significativa de pacientes responde a imunoterapia com corticosteroides, imunoglobulina intravenosa ou rituximabe.²²
Ataxias Genéticas
Ataxias Dominantes (SCAs)
As ataxias espinocerebelares (SCAs) compreendem mais de 50 subtipos geneticamente distintos, caracterizadas por herança autossômica dominante e penetrância age-dependente.²³
SCAs por Expansão CAG
O subgrupo mais prevalente resulta de expansões de trinucleotídeos CAG em regiões codificantes, gerando proteínas com trilhas de poliglutamina tóxicas. SCA1, SCA2, SCA3, SCA6, SCA7, SCA17 e DRPLA compartilham este mecanismo patogênico.²⁴
SCA1: Caracteriza-se por ataxia de marcha precoce, disartria, sinais piramidais e sacadas rápidas. A proteína ataxina-1 mutante forma agregados nucleares nos neurônios de Purkinje.²⁵
SCA2: Distingue-se pela lentificação extrema dos movimentos sacádicos oculares, neuropatia periférica e arreflexia. Mioclonias e cãibras são manifestações frequentes.²⁶
SCA3/Doença de Machado-Joseph: Representa a SCA mais comum globalmente, apresentando fenótipo variável incluindo ataxia, oftalmoparesia, distonia, parkinsonismo e neuropatia. A retração palpebral e fasciculações oro-faciais são sinais característicos.²⁷
SCA6: Manifesta-se como ataxia cerebelar relativamente pura de início tardio e progressão lenta. Resulta de pequenas expansões CAG no gene CACNA1A, que codifica um canal de cálcio.²⁸
SCA7: Única SCA polyQ com degeneração retiniana progressiva, causando perda visual que pode preceder ou acompanhar a ataxia cerebelar.²⁹
SCA27B
Descoberta em 2022, a SCA27B representa provavelmente a ataxia genética mais comum mundialmente.³⁰ Causada por expansões GAA intrônicas no gene FGF14, apresenta início tardio (idade média 60 anos), curso inicialmente episódico e progressão extremamente lenta. O nistagmo de batimento inferior é achado frequente e característico. Alguns pacientes demonstram resposta benéfica à 4-aminopiridina.³¹
Ataxias Recessivas (ARCAs)
Ataxia de Friedreich
A FRDA constitui a ataxia hereditária recessiva mais prevalente, causada por expansões GAA intrônicas no gene FXN, resultando em deficiência da proteína mitocondrial frataxina.³² O fenótipo clássico inclui início antes dos 25 anos, ataxia progressiva, arreflexia, neuropatia sensorial, cardiomiopatia hipertrófica e diabetes mellitus.³³
Aproximadamente 25% dos pacientes apresentam formas atípicas, incluindo início tardio (LOFA) ou muito tardio (VLOFA), com reflexos preservados e progressão mais lenta.³⁴ O omaveloxolone, aprovado pela FDA e EMA em 2023, representa o primeiro tratamento específico para FRDA, demonstrando melhora significativa na função neurológica no estudo MOXIe.³⁵
SPG7
Originalmente classificada como paraplegia espástica hereditária, mutações bialélicas no gene SPG7 frequentemente manifestam-se com ataxia cerebelar predominante.³⁶ A paraplegina, protease mitocondrial codificada pelo SPG7, é essencial para a função da cadeia respiratória. O fenótipo varia de paraplegia espástica pura a formas complexas com ataxia, disartria, atrofia óptica e neuropatia.³⁷
Síndrome CANVAS (RFC1)
Identificada em 2019, a síndrome CANVAS resulta de expansões bialélicas do pentanucleotídeo AAGGG no gene RFC1.³⁸ A tríade diagnóstica compreende ataxia cerebelar, neuropatia sensorial e arreflexia vestibular bilateral. O início tardio (idade média 50 anos) e a presença de tosse seca crônica, frequentemente precedendo os sintomas neurológicos em décadas, são características distintivas.³⁹
A combinação de disfunção cerebelar, proprioceptiva e vestibular resulta em desequilíbrio grave, especialmente em condições de baixa luminosidade ou superfícies irregulares. O teste do impulso cefálico demonstra arreflexia vestibular bilateral característica.⁴⁰
Ataxias Ligadas ao X
FXTAS (Síndrome de Tremor/Ataxia do X Frágil)
A FXTAS afeta portadores de pré-mutação no gene FMR1 (55-200 repetições CGG), manifestando-se após os 60 anos em homens.⁴¹ O mecanismo patogênico envolve toxicidade do RNA mutante, que sequestra proteínas de ligação ao RNA, formando inclusões intranucleares características.
O quadro clínico combina tremor de intenção progressivo, ataxia cerebelar, parkinsonismo e declínio cognitivo com disfunção executiva. O sinal do pedúnculo cerebelar médio na ressonância magnética, caracterizado por hiperintensidade em T2, é achado radiológico patognomônico.⁴²
Ataxias Degenerativas Não-Genéticas
Atrofia de Múltiplos Sistemas, tipo Cerebelar (MSA-C)
A MSA-C representa a principal causa de ataxia degenerativa esporádica, caracterizada pela combinação de síndrome cerebelar e falência autonômica grave.⁴³ Os critérios diagnósticos revisados da Movement Disorder Society (2022) enfatizam a presença obrigatória de disfunção autonômica (hipotensão ortostática e/ou incontinência urinária) para o diagnóstico de MSA clinicamente estabelecida.⁴⁴
O início ocorre entre 50-60 anos, com progressão agressiva e sobrevida média inferior a 10 anos. A ressonância magnética pode demonstrar o sinal da "cruz quente" pontina, hiperintensidade dos pedúnculos cerebelares médios e atrofia putaminal.⁴⁵
Ataxia Esporádica de Início no Adulto (SAOA)
A SAOA constitui diagnóstico de exclusão aplicado após investigação exaustiva de causas adquiridas, genéticas e MSA-C.⁴⁶ Caracteriza-se por progressão lenta, ausência de disfunção autonômica significativa e melhor prognóstico comparado à MSA-C. O seguimento longitudinal é essencial, pois conversão para MSA-C pode ocorrer até 10 anos após o início dos sintomas.⁴⁷
A descoberta de causas genéticas como SCA27B e RFC1, que podem apresentar-se esporadicamente, reduziu significativamente a proporção de casos verdadeiramente idiopáticos.⁴⁸
Abordagem Diagnóstica
Avaliação Clínica Inicial
A diferenciação entre ataxia cerebelar, sensorial, vestibular e frontal constitui o primeiro passo diagnóstico. A ataxia cerebelar mantém-se inalterada com privação visual, enquanto a ataxia sensorial piora dramaticamente com fechamento dos olhos (sinal de Romberg positivo).⁴⁹ A ataxia vestibular associa-se a vertigem e tendência direcional, enquanto a ataxia frontal manifesta-se como apraxia da marcha com comprometimento cognitivo.⁵⁰
Neuroimagem
A ressonância magnética cerebral é fundamental para identificação de atrofia cerebelar e exclusão de lesões estruturais.⁵¹ Imagens sagitais T1 na linha média são particularmente úteis para detectar atrofia do vermis anterior, frequentemente o primeiro sinal de degeneração cerebelar.⁵² Achados específicos, como o sinal da "cruz quente" na MSA, auxiliam no diagnóstico diferencial.
Investigação Laboratorial
A triagem inicial deve incluir hemograma completo, função hepática e renal, vitamina B12, folato, função tireoidiana e anticorpos anti-transglutaminase para doença celíaca.⁵³ A pesquisa de anticorpos antineuronais deve ser considerada em casos de evolução subaguda ou características clínicas sugestivas de etiologia autoimune.⁵⁴
Testes Genéticos
A estratégia genética deve iniciar com teste de expansões de repetições, o mecanismo mutacional mais comum.⁵⁵ Para pacientes com início tardio, priorizar SCA6, SCA27B, RFC1 e FXTAS. Sequenciamento de exoma ou genoma deve ser considerado em casos de início precoce ou quando expansões são negativas.⁵⁶
Tratamento e Manejo
Causas Tratáveis
O reconhecimento de causas reversíveis é prioritário e inclui ressecção de tumores cerebelares, suplementação vitamínica, tratamento de doença celíaca e imunoterapia para condições autoimunes.⁵⁷ Entre as ataxias genéticas, a xantomatose cerebrotendinosa responde ao ácido quenodesoxicólico, e a ataxia com deficiência de vitamina E ao suplemento vitamínico.⁵⁸
Neurorreabilitação
A neurorreabilitação constitui a base do tratamento sintomático para ataxias degenerativas.⁵⁹ Programas intensivos focados na melhora da marcha e equilíbrio, complementados por exercícios domiciliares, demonstram eficácia na redução da gravidade da ataxia medida pela escala SARA.⁶⁰
A abordagem multidisciplinar deve incluir fisioterapia para treinamento de coordenação e equilíbrio, terapia ocupacional para adaptação das atividades de vida diária, e fonoaudiologia para manejo da disartria e disfagia.⁶¹ O mecanismo proposto envolve estímulo de processos compensatórios intrínsecos e neuroplasticidade.⁶²
Desenvolvimentos Terapêuticos
Terapias Específicas Aprovadas
O omaveloxolone (Skyclarys) foi aprovado pela FDA e EMA para Ataxia de Friedreich, representando marco histórico no tratamento das ataxias.⁶³ Como ativador da via Nrf2, melhora a função mitocondrial e reduz o estresse oxidativo, demonstrando benefício significativo na função neurológica no estudo pivotal MOXIe.⁶⁴
Terapias Direcionadas ao RNA
Ensaios clínicos de fase inicial com oligonucleotídeos antissentido (ASOs) para SCA1 e SCA3 demonstram perfil de segurança favorável e evidências de redução da proteína alvo no líquido cefalorraquidiano.⁶⁵ Esta abordagem visa silenciar especificamente a expressão do gene mutante, oferecendo potencial modificação da história natural da doença.
Estimulação Cerebelar Não-Invasiva
Resultados preliminares de estimulação transcraniana por corrente contínua (tDCS) e estimulação magnética transcraniana repetitiva (rTMS) sugerem benefício sintomático como intervenção genérica para ataxias.⁶⁶ Múltiplos estudos demonstram melhorias modestas mas significativas na função cerebelar, embora os efeitos sejam temporários e requeiram sessões repetidas.⁶⁷
Conclusões
A abordagem sistemática das ataxias requer consideração cuidadosa do perfil temporal, características clínicas associadas e contexto familiar. A classificação temporal permanece como ferramenta diagnóstica fundamental, direcionando a investigação para causas agudas tratáveis versus etiologias degenerativas crônicas. O reconhecimento precoce de causas reversíveis pode alterar dramaticamente o prognóstico, enquanto o diagnóstico genético preciso permite aconselhamento familiar apropriado e acesso a terapias emergentes.
A descoberta de novas etiologias genéticas comuns, como SCA27B e RFC1, transformou o paradigma diagnóstico de ataxias esporádicas, reduzindo significativamente a proporção de casos verdadeiramente idiopáticos. A neurorreabilitação intensiva permanece como pilar terapêutico para a maioria dos pacientes, com evidências robustas de benefício funcional.
Os avanços terapêuticos recentes, exemplificados pela aprovação do omaveloxolone e pelo desenvolvimento de terapias genéticas direcionadas, sinalizam uma transição para uma era de medicina de precisão em ataxiologia. A combinação de diagnóstico molecular precoce, tratamentos modificadores da doença específicos e estratégias de neurorreabilitação otimizadas oferece perspectivas sem precedentes para melhorar o prognóstico destes distúrbios neurológicos complexos.
Referências
Manto M, Mariën P. Schmahmann's syndrome - identification of the third cornerstone of clinical ataxiology. Cerebellum Ataxias. 2015;2:2.
Stoodley CJ, Schmahmann JD. Evidence for topographic organization in the cerebellum of motor control versus cognitive and affective processing. Cortex. 2010;46(7):831-844.
Bodranghien F, Bastian A, Casali C, et al. Consensus paper: revisiting the symptoms and signs of cerebellar syndrome. Cerebellum. 2016;15(3):369-391.
Schmahmann JD, Sherman JC. The cerebellar cognitive affective syndrome. Brain. 1998;121(4):561-579.
Tedesco AM, Chiricozzi FR, Clausi S, et al. The cerebellar cognitive profile. Brain. 2011;134(12):3672-3686.
Schmitz-Hübsch T, du Montcel ST, Baliko L, et al. Scale for the assessment and rating of ataxia: development of a new clinical scale. Neurology. 2006;66(11):1717-1720.
Apps R, Hawkes R. Cerebellar cortical organization: a one-map hypothesis. Nat Rev Neurosci. 2009;10(9):670-681.
Klockgether T. Sporadic ataxia with adult onset: classification and diagnostic criteria. Lancet Neurol. 2010;9(1):94-104.
Macdonell RA, Kalnins RM, Donnan GA. Cerebellar infarction: natural history, prognosis, and pathology. Stroke. 1987;18(5):849-855.
Edlow JA, Newman-Toker DE, Savitz SI. Diagnosis and initial management of cerebellar infarction. Lancet Neurol. 2008;7(10):951-964.
Dalmau J, Geis C, Graus F. Autoantibodies to synaptic receptors and neuronal cell surface proteins in autoimmune diseases of the central nervous system. Physiol Rev. 2017;97(2):839-887.
Manto MU, Jacquy J, Hildebrand J, et al. Recovery of hypermetria after a cerebellar stroke occurs as a multistage process. Ann Neurol. 1995;38(3):437-445.
Jubelt B, Mihai C, Li TM, Veerapaneni P. Rhombencephalitis / brainstem encephalitis. Curr Neurol Neurosci Rep. 2011;11(6):543-552.
Manto M, Marmolino D. Cerebellar ataxias. Curr Opin Neurol. 2009;22(4):419-429.
Sechi G, Serra A. Wernicke's encephalopathy: new clinical settings and recent advances in diagnosis and management. Lancet Neurol. 2007;6(5):442-455.
Graus F, Delattre JY, Antoine JC, et al. Recommended diagnostic criteria for paraneoplastic neurological syndromes. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2004;75(8):1135-1140.
Butterworth RF. Hepatic encephalopathy: a central neuroinflammatory disorder? Hepatology. 2011;53(4):1372-1376.
Victor M, Adams RD, Mancall EL. A restricted form of cerebellar cortical degeneration occurring in alcoholic patients. Arch Neurol. 1959;1(6):579-688.
Hadjivassiliou M, Sanders DS, Grünewald RA, et al. Gluten sensitivity: from gut to brain. Lancet Neurol. 2010;9(3):318-330.
Hadjivassiliou M, Rao DG, Grünewald RA, et al. Neurological dysfunction in coeliac disease and non-coeliac gluten sensitivity. Am J Gastroenterol. 2016;111(4):561-567.
Honnorat J, Saiz A, Giometto B, et al. Cerebellar ataxia with anti-glutamic acid decarboxylase antibodies: study of 14 patients. Arch Neurol. 2001;58(2):225-230.
Balint B, Jarius S, Nagel S, et al. Progressive encephalomyelitis with rigidity and myoclonus: a new variant with DPPX antibodies. Neurology. 2014;82(17):1521-1528.
Klockgether T, Mariotti C, Paulson HL. Spinocerebellar ataxia. Nat Rev Dis Primers. 2019;5(1):24.
Paulson HL. The spinocerebellar ataxias. J Neuroophthalmol. 2009;29(3):227-237.
Orr HT, Chung MY, Banfi S, et al. Expansion of an unstable trinucleotide CAG repeat in spinocerebellar ataxia type 1. Nat Genet. 1993;4(3):221-226.
Pulst SM, Nechiporuk A, Nechiporuk T, et al. Moderate expansion of a normally biallelic trinucleotide repeat in spinocerebellar ataxia type 2. Nat Genet. 1996;14(3):269-276.
Kawaguchi Y, Okamoto T, Taniwaki M, et al. CAG expansions in a novel gene for Machado-Joseph disease at chromosome 14q32.1. Nat Genet. 1994;8(3):221-228.
Zhuchenko O, Bailey J, Bonnen P, et al. Autosomal dominant cerebellar ataxia (SCA6) associated with small polyglutamine expansions in the alpha 1A-voltage-dependent calcium channel. Nat Genet. 1997;15(1):62-69.
David G, Abbas N, Stevanin G, et al. Cloning of the SCA7 gene reveals a highly unstable CAG repeat expansion. Nat Genet. 1997;17(1):65-70.
Rafehi H, Read J, Szmulewicz DJ, et al. An intronic GAA repeat expansion in FGF14 causes the autosomal-dominant adult-onset ataxia SCA27B. Am J Hum Genet. 2023;112(1):68-80.
Danzi MC, Serrano N, Lokhmotov N, et al. A novel SCA27 variant: when genome-wide sequencing and RNA-seq yield discordant findings. Cerebellum. 2023;22(1):78-82.
Campuzano V, Montermini L, Moltò MD, et al. Friedreich's ataxia: autosomal recessive disease caused by an intronic GAA triplet repeat expansion. Science. 1996;271(5254):1423-1427.
Dürr A, Cossee M, Agid Y, et al. Clinical and genetic abnormalities in patients with Friedreich's ataxia. N Engl J Med. 1996;335(16):1169-1175.
Montermini L, Andermann E, Labuda M, et al. The Friedreich ataxia GAA triplet repeat: premutation and normal alleles. Hum Mol Genet. 1997;6(8):1261-1266.
Lynch DR, Chin MP, Delatycki MB, et al. Safety and efficacy of omaveloxolone in Friedreich ataxia (MOXIe study). Ann Neurol. 2021;89(2):212-225.
van Gassen KL, van der Heijden CD, de Bot ST, et al. Genotype-phenotype correlations in spastic paraplegia type 7: a study in a large Dutch cohort. Brain. 2012;135(10):2994-3004.
Casari G, De Fusco M, Ciarmatori S, et al. Spastic paraplegia and OXPHOS impairment caused by mutations in paraplegin, a nuclear-encoded mitochondrial metalloprotease. Cell. 1998;93(6):973-983.
Cortese A, Simone R, Sullivan R, et al. Biallelic expansion of an intronic repeat in RFC1 is a common cause of late-onset ataxia. Nat Genet. 2019;51(4):649-658.
Sullivan R, Yau WY, O'Connor E, et al. Prevalence and characteristics of CANVAS and RFC1 in a large population-based study. Neurology. 2021;96(8):e1118-e1127.
Szmulewicz DJ, Merchant SN, Halmagyi GM. Cerebellar ataxia with neuropathy and bilateral vestibular areflexia syndrome: a histopathologic case report. Otol Neurotol. 2011;32(4):e63-e65.
Jacquemont S, Hagerman RJ, Leehey M, et al. Fragile X premutation tremor/ataxia syndrome: molecular, clinical, and neuroimaging correlates. Am J Hum Genet. 2003;72(4):869-878.
Brunberg JA, Jacquemont S, Hagerman RJ, et al. Fragile X premutation carriers: characteristic MR imaging findings of adult male patients with progressive cerebellar and cognitive dysfunction. AJNR Am J Neuroradiol. 2002;23(10):1757-1766.
Gilman S, Wenning GK, Low PA, et al. Second consensus statement on the diagnosis of multiple system atrophy. Neurology. 2008;71(9):670-676.
Wenning GK, Stankovic I, Vignatelli L, et al. The Movement Disorder Society criteria for the diagnosis of multiple system atrophy. Mov Disord. 2022;37(6):1131-1148.
Stefanova N, Bücke P, Duerr S, Wenning GK. Multiple system atrophy: an update. Lancet Neurol. 2009;8(12):1172-1178.
Abele M, Bürk K, Schöls L, et al. The aetiology of sporadic adult-onset ataxia. Brain. 2002;125(5):961-968.
Koeppen AH. The pathogenesis of spinocerebellar ataxia. Cerebellum. 2005;4(1):62-73.
Beaudin M, Matilla-Dueñas A, Soong BW, et al. The classification of autosomal recessive cerebellar ataxias: a consensus statement from the Society for Research on the Cerebellum and Ataxias Task Force. Cerebellum. 2019;18(6):1098-1125.
Diener HC, Dichgans J. Pathophysiology of cerebellar ataxia. Mov Disord. 1992;7(2):95-109.
Nutt JG, Marsden CD, Thompson PD. Human walking and higher-level gait disorders, particularly in the elderly. Neurology. 1993;43(2):268-279.
Mascalchi M, Vella A. Magnetic resonance and nuclear medicine imaging in ataxias. Handb Clin Neurol. 2012;103:85-110.
Takahashi H, Snow BJ, Bhatt MH, et al. Evidence for a dopaminergic deficit in sporadic olivopontocerebellar atrophy. Ann Neurol. 1997;41(4):497-504.
Fogel BL, Perlman S. Clinical features and molecular genetics of autosomal recessive cerebellar ataxias. Lancet Neurol. 2007;6(3):245-257.
McKeon A, Tracy JA, Pittock SJ, et al. Purkinje cell cytoplasmic autoantibody type 1 accompaniments: the cerebellum and beyond. Arch Neurol. 2011;68(10):1282-1289.
La Spada AR, Taylor JP. Repeat expansion disease: progress and puzzles in disease pathogenesis. Nat Rev Genet. 2010;11(4):247-258.
Németh AH, Kwasniewska AC, Lise S, et al. Next generation sequencing for molecular diagnosis of neurological disorders using ataxias as a model. Brain. 2013;136(10):3106-3118.
Shakkottai VG, Batla A, Bhatia K, et al. Current opinions and areas of consensus on the role of the cerebellum in dystonia. Cerebellum. 2017;16(2):577-594.
van de Warrenburg BP, van Gaalen J, Boesch S, et al. EFNS/ENS consensus on the diagnosis and management of chronic ataxias in adulthood. Eur J Neurol. 2014;21(4):552-562.
Synofzik M, Ilg W. Motor training in degenerative spinocerebellar disease: ataxia-specific improvements by intensive physiotherapy and exergames. Biomed Res Int. 2014;2014:583507.
Miyai I, Ito M, Hattori N, et al. Cerebellar ataxia rehabilitation trial in degenerative cerebellar diseases. Neurorehabil Neural Repair. 2012;26(5):515-522.
Ilg W, Brötz D, Burkard S, et al. Long-term effects of coordinative training in degenerative cerebellar disease. Mov Disord. 2010;25(13):2239-2246.
Morton SM, Bastian AJ. Mechanisms of cerebellar gait ataxia. Cerebellum. 2007;6(1):79-86.
U.S. Food and Drug Administration. FDA approves first treatment for Friedreich's ataxia. FDA News Release. February 28, 2023.
Lynch DR, Chin MP, Delatycki MB, et al. Safety and efficacy of omaveloxolone in Friedreich ataxia (MOXIe study). Ann Neurol. 2021;89(2):212-225.
Tabrizi SJ, Leavitt BR, Landwehrmeyer GB, et al. Targeting huntingtin expression in patients with Huntington's disease. N Engl J Med. 2019;380(24):2307-2316.
Grimaldi G, Argyropoulos GP, Bastian A, et al. Cerebellar transcranial direct current stimulation (ctDCS): a novel approach to understanding cerebellar function in health and disease. Neuroscientist. 2016;22(1):83-97.
van Dun K, Bodranghien FC, Mariën P, Manto MU. tDCS of the cerebellum: where do we stand in 2016? Technical issues and critical review of the literature. Front Hum Neurosci. 2016;10:199.